terça-feira, 15 de agosto de 2017

JOVEM LANÇA LIVRO APÓS FICAR CEGO E ENFRENTAR CÂNCER PELA 4ª VEZ AOS 14 ANOS

Gabriel Santos Souza lida com doença desde os oito meses e espera seguir como escritor. Conto de terror ‘Magno, o Espantalho’ teve as primeiras cópias distribuídas a professores e colegas em Colina.
Estudante Gabriel Santos Souza, de 14 anos, perdeu a visão devido a um câncer na retina (Foto: Antonio Luiz/EPTV).
Enfrentar o câncer pela quarta vez e perder a visão por causa da doença aos 14 anos não foram motivos suficientes para o estudante Gabriel Santos Souza desistir do sonho de publicar seu primeiro livro.
Apaixonado pela literatura, o jovem de Colina (SP) transformou uma atividade em sala de aula no ponto de partida para a obra de terror “Magno, o Espantalho”, com os primeiros 200 exemplares lançados para colegas e professores da Escola Técnica Agropecuária Municipal São Francisco de Assis.
A ideia surgiu depois que a professora de Língua Portuguesa pediu a Souza para escrever uma redação sobre o Halloween. As linhas do conto ganharam mais páginas do que o esperado. Ao ler o texto, um professor de história digitalizou o material.
“O conto foi criando corpo, ficando maior e acabou virando livro”, explica o garoto, que teve a ajuda de amigos da escola para finalizar a obra.
As ilustrações, por exemplo, foram feitas por alunos do terceiro colegial. “Jamais imaginava que ia conseguir chegar aonde cheguei. Só consegui chegar a esse ponto com a ajuda dos amigos. É uma emoção muito grande”, diz.

Superação

A história de superação de Souza começa quando ele tinha apenas oito meses, quando foi diagnosticado com retinoblastoma, um câncer raro na retina. A mãe dele, a dona de casa Irani Souza, percebeu a mudança de cor no olho esquerdo do bebê e procurou um médico em Mato Grosso do Sul, onde a família até então morava, na zona rural. A pedido do médico, a família teve que se mudar para São Paulo (SP) para iniciar os tratamentos.
Depois de ser dado como curado pelos médicos, Souza novamente foi diagnosticado com a doença. Dessa vez, os dois olhos foram afetados e a criança perdeu a visão. O olho esquerdo teve que ser substituído por uma prótese.
Aos 7 anos, um novo drama surgiu com a aparição de um tumor no joelho. Câncer mais uma vez curado, mas que voltou no braço. Hoje o garoto faz quimioterapia no Hospital de Câncer de Barretos (SP), a 25 km de Colina.
“É até estranho falar, mas ele teve um retinoblastoma que recidivou no osso. É uma doença que é muito rara. Pode dar metástase para outros lugares, que é quando a raiz do tumor sai e vai para outras partes do corpo. Nele, infelizmente, foi para o osso, que é mais raro ainda”, explica a oncologista Nádia Rocha, que atende o jovem em Barretos.
A médica conta que os tratamentos de quimioterapia e radioterapia e as cirurgias não tiraram o ânimo e a vontade dele em continuar com as atividades do dia a dia.
“Ele vem para o hospital, faz a quimioterapia, e volta pra casa, fazer as atividades diárias dele. A única coisa que ele pergunta pra gente quando tem que tratar de novo é se ele pode continuar indo pra escola, brincando, fazendo o que ele sempre faz. Isso pra gente é muito gratificante, pois, apesar do tumor, a criança continua com a qualidade de vida dela normalmente”, diz.

União

As dificuldades e barreiras de Gabriel Souza foram sempre acompanhadas de perto pela família. Os pais Irani Souza e Daniel Souza também tiveram que se adaptar às diversas mudanças no quadro de saúde do filho, além da nova vida na capital paulista.
“Mudamos da selva de mato pra selva de pedra. Tive que me adaptar mais na área de serviço, não deixar nada faltar. Além das dificuldades que a gente passou na parte de tratamento do Gabriel, a parte de serviço, de manter a casa, pagar o aluguel, é uma coisa que me preocupava tanto quanto a doença dele”, afirma o pai.
A estabilidade, agora, em Colina, é motivo de comemoração para a mãe. “Foi um prêmio da vida. Deus nos recompensou imensamente. Ver o Gabriel do jeito que ele é, forte, determinado, a gente dá todo apoio para ele, porque ele quer vencer, acredito que ele vai vencer”, conta.

Livro de terror

Souza se declara eclético quanto aos temas que mais lhe despertam a atenção. Ligado a filosofia e meditação, Souza também tem uma inclinação para histórias de aventura, acampamento e terror e as cria desde quando tinha 5 anos.
“Acho que herdei isso dos meus pais, sabe? Eles são bem aventureiros e acho que consegui herdar isso deles.”
No quarto do jovem, com as paredes decoradas por máscaras de fantasias assustadoras, se vê de onde vem parte da inspiração para “Magno, o Espantalho”. O livro fala de um menino que sofreu na infância e na adolescência e que, após ser tratado como escravo, é transformado em um espantalho assassino que assombra uma escola agrícola.
Além do local em comum, alguns personagens fazem parte da vida real do garoto, como a professora Daniela, de português, o Montanha, de história, o pai dele, Daniel Souza, e o próprio Gabriel.
“Vou querer seguir a carreira de escritor sim, fazer vários livros. Esse é meu plano de vida agora. Ainda seguindo o tema de terror, porque é a minha especialidade. Já estou pensando em novas histórias, mas são surpresa. Vou começar a escrever o segundo livro após a próxima edição de ‘Magno, o Espantalho’, que ainda não tem data determinada”, promete.
Livro de terror é o primeiro escrito pelo estudante Gabriel Santos Souza, de 14 anos (Foto: Antonio Luiz/EPTV)

Final feliz

Segundo a mãe Irani, a escolha do garoto por histórias de terror foi uma surpresa, pois Gabriel, desde bebê, sempre foi um menino tranquilo, calmo e compreensível.
“É um menino muito especial, cheio de luz. E a gente apoia ele. A gente achou diferente esse gosto por terror. Então, ele é uma mistura. Eu acho que para ser feliz nesse mundo é legal ter um pouquinho de cada. Na vida a gente enfrenta de tudo um pouco, então o Gabriel é preparado para tudo. Ele tem uma cabeça muito boa”, conta.
O pai não esperava que a atividade escolar fosse tomar uma proporção tão grande. “Foi um esforço coletivo. O Gabriel entrou com a história e o pessoal fez todo o corpo. Foi o conjunto. Foi muita amizade”, diz Daniel Souza.
A realização dá forças para a família continuar acreditando na recuperação do jovem e em uma vida menos sofrida pelos próximos anos. “Eu sei que ele vai vencer. Essa doença não é mais forte que ele. Deus é maior, está à frente de tudo. A gente tem muita fé. Ele tem uma mente muito boa”, afirma a mãe.
Pais de Gabriel esperam cura definitiva de câncer no garoto (Foto: Antonio Luiz/EPTV)

*Fonte: G1.Globo.com