sábado, 28 de outubro de 2017

O JOGO DA VIDA: TORCEDORAS FALAM SOBRE LUTA CONTRA O CÂNCER DE MAMA

Karina Colpaert, 40 anos, botafoguense. Ana Marta de Campos Alves, 60 anos, flamenguista. Graça Gomes, 69 anos, tricolor. Sandra Lopes Coelho, 57 anos, vascaína. Sabe o que essas quatro mulheres têm em comum? O câncer de mama. São batalhadoras que, apesar do choque da notícia, lutaram e lutam para vencer o tumor, o mais comum entre as mulheres. Nesse mês em que a prevenção do câncer de mama é tema de diversos debates, o GloboEsporte.com foi atrás de histórias inspiradoras.
“Olhei para a morte e vi a vida”
Na casa de Karina Colpaert todo mundo é alvinegro. A psicóloga conta que o marido Nuno e os filhos Pedro e Guilherme são super botafoguenses.
– Sou muito incentivadora deles. Eu incentivei mais meus filhos a torcerem pelo Botafogo que o próprio pai. É lindo eles gostarem das mesmas coisas.
E foi justamente durante uma competição de futebol, a mais importante delas, que Karina descobriu o câncer de mama. Durante a Copa do Mundo de 2014, a carioca fez o exame preventivo e foi diagnosticada com a doença, aos 37 anos.
– Acho que a estrela brilhou. Não faz parte do protocolo você fazer mamografia se você não tem histórico. O ginecologista me indicou a ultrassonografia da mama e já diagnosticou o câncer através de exames de imagem. Em 20dias, eu estava pronta para fazer a cirurgia. Fiz a mastectomia total da mama direita e depois quatro sessões de quimioterapia. Não é fácil receber esse diagnóstico, dá muito medo. Mas eu escutei dos médicos e acreditei que o câncer de mama tinha cura. Estou totalmente curada. Olhei para a morte e vi a vida.
Além do diagnóstico precoce, o apoio da família ajudou a botafoguense na recuperação. A psicóloga contou com o cuidado dos pais e a compreensão do marido.
– Quando soube que precisava fazer a mastectomia, eu pensava: “meu marido não vai mais me querer”. Mas eu precisava escutar a opinião dele. Ele me disse: “Karina, eu não casei com seu peito, casei com você”. Me senti segura, muito amada.
O câncer de mama alertou Karina sobre seus limites e a necessidade de escutar seu corpo.
– Hoje consigo falar que o câncer foi um presente, porque tive a oportunidade de perceber que estava sobrevivendo. Trabalhava muito, tinha uma família maravilhosa, mas sabia que as coisas não estavam equilibradas. Meu corpo gritou “você tem que dar uma parada”. E eu fiz isso. Hoje tenho uma vida mais feliz que tinha há 3 anos. Contemplo a vida.
“Ser Flamengo dá mais força ainda”
A aposentada Ana Marta de Campos Alves teve o diagnóstico confirmado há poucos meses e está no meio do tratamento.
– Todo os anos eu faço mamografia e, no ano passado, foi constatado um linfonodo na axila esquerda. Esse ano, conheci a doutora Thereza Cypreste, mastologista em Niterói, e foi notado que o linfonodo era maligno. Fiz a mamotomia e estou fazendo a quimioterapia. Graças a Deus estou forte, tranquila.
A rubro-negra fanática diz que o bom-humor e a alegria de viver são fundamentais para lutar contra a doença e vencer.
– Eu animo todas as pessoas no lugar em que faço a quimioterapia. Deus me colocou para animar as pessoas. Sou muito brincalhona. Até o médico me parabenizou porque contaram para ele que faço todos rirem.
O amor pelo Flamengo é uma das bases fortes da vida de Ana Marta. Uma paixão que fortalece a cada ano e que, mesmo nesse momento difícil, não é deixada de lado.
– Em 1974, eu comecei a participar das torcidas. A gente nunca sentava, só cantava o tempo todo. Foi uma época que o Flamengo ganhou tudo. Inesquecível. Todos os jogos eu acompanho. Ser flamengo dá mais força ainda.
“Fui uma vencedora e você também será”
Em 2011, Graça Gomes, advogada aposentada, recebeu a notícia do câncer de mama.
– Fiz a mastectomia, quimioterapia, venci o câncer e sigo em tratamento. Coloquei na cabeça que iria ficar boa e fiquei. Bola pra frente. A gente tem que se cuidar.
Tricolor de coração desde sempre, Graça foi influenciada pelo pai a torcer pelo Fluminense. Ela e toda a família. Família que teve papel importante na cura.
– Fui muito acolhida. Pessoas que eu nem imaginava me deram apoio. Deus não me desamparou e nem meus familiares.
Graça reforça a importância do acompanhamento médico e aconselha todas as mulheres a não deixarem de lado o exame da mama. Segundo ela, tudo acontece muito rápido. Por isso, o diagnóstico precoce é essencial.
– Não tema. Tenha fé, força, coragem, luta. Porque fui uma vencedora e você também será.
“Não me coloquei no papel de vítima”
A bibliotecária Sandra Lopes Coelho ficou assustada com a possibilidade do câncer de mama. Em novembro de 2016, ela levou um choque ao descobrir um nódulo na mama. Fez os exames e, até a próxima visita ao médico, torceu para que não fosse confirmado o câncer.
– Eu me senti culpada. Fazia exames periódicos e de um ano para o outro apareceu o nódulo, já grande. Não queria aceitar aquilo. No início de janeiro, quando fui à médica, ela me confirmou que era realmente câncer. Ela me disse que eu tinha que ter a postura de mostrar para a doença quem manda.
O primeiro passo foram as sessões de quimioterapia. A vascaína, que aprendeu a gostar do Cruz-Maltino por influência do pai, fez a mastectomia em setembro e se considera livre do câncer.
– Resolvi primeiro cuidar de mim. Se eu ficasse bem, as pessoas à minha volta ficariam mais tranquilas. Eu me surpreendi com a forma como eu lidei. Eu achei que não ia conseguir, mas não me entreguei. Muita gente diz “por que comigo?”. Não me coloquei no papel de vítima, procurei estar sempre bem-humorada.

Fala o especialista
O mastologista e diretor do Hospital Fundação do Câncer, Carlos Frederico Lima, afirma que o câncer de mama é o principal tipo de tumor que afeta as mulheres. E reforça a necessidade do diagnóstico precoce para uma maior chance de cura.
– A expectativa de cura de uma paciente diagnosticada no estágio 0 da doença é de 98%. Mesmo no estágio mais avançado, ainda tem uma sobrevida longa. Na maioria dos casos, o câncer de mama é um tumor lento e indolente.
Outro fator que possibilita a prevenção do câncer de mama é a adoção de hábitos saudáveis de vida.
– Há várias evidências que hábitos não saudáveis ajudam no aparecimento do câncer de mama. Manutenção de peso ideal, alimentação adequada, atividade física aeróbica regular são atitudes importantes para prevenir o tumor. Quero reforçar também que a arma que temos para o diagnóstico precoce é a mamografia. A recomendação é que mulheres a partir dos 40 anos de idade iniciem o acompanhamento, façam o exame anualmente. Isso para quem não tem histórico de câncer na família. Para essas mulheres, o acompanhamento deve começar pelo menos cinco anos antes.

*Fonte: GloboEsporte.com