terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

A história do primeiro estudante de classe hospitalar do RN aprovado no ENEM

Ezequiel Mateus da Rocha, de 19 anos. Ele dividiu as dores de um tratamento contra um câncer com os estudos e agora mostra que é Ufersa / Foto Assecom Ufersa
Quem já fez ou pretende fazer o Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, sabe que é necessária toda uma preparação de estudos e exercícios para se sair bem na avaliação. Mas já pensou em fazer essa preparação tendo que dividir a rotina com ciclos de quimioterapia? E mais: já imaginou se concentrar para responder dezenas de questões e produzir uma redação com dores?
Ezequiel ao lado das pedagogas Hemaúse e Juliana / Foto Assecom Ufersa
O jovem Ezequiel Mateus da Rocha, de 19 anos, dividiu as dores de um tratamento contra um câncer com os estudos. Desde que descobriu, em 2019, que estava com um osteossarcoma, um tipo de câncer, que ele vem travando uma luta para obter a cura e, paralelo a isso, se preparar para o ENEM. “Quando as minhas defesas subiam, eu me concentrava nos estudos. Para você ter uma ideia, dentro de um mês, eu só conseguia estudar uns seis dias”, comentou Ezequiel.
Como aluno da classe hospitalar, Ezequiel conseguiu fazer a prova no próprio hospital obedecendo aos horários e todas as demais regras que norteiam a realização do ENEM / Foto Assecom Ufersa
Entre uma dor e outra, Ezequiel conseguiu se preparar para o Exame numa classe hospitalar da Liga Mossoroense de Estudos e Combate ao Câncer com o auxílio da Associação de Apoio aos Portadores de Câncer de Mossoró e Região. Durante todo esse processo, ele foi acompanhado pelas pedagogas Hemaúse Emanuele da Silva e Juliana Torres, ambas cedidas pela Secretaria Estadual de Educação para o Hospital.
Como aluno da classe hospitalar, Ezequiel conseguiu fazer a prova no próprio hospital obedecendo aos horários e todas as demais regras que norteiam a realização do ENEM. “A prova dele veio num malote, acompanhado de policiais. Ele teve horário para começar e terminar a prova, assim como todos os outros candidatos”, comentou a pedagoga Juliana.
Ezequiel fez a prova nos mesmos dias que os demais estudantes. A diferença foi só a acomodação. Como sentia muitas dores, ele revezava as questões com períodos de descanso. Segundo o próprio Ezequiel, no segundo dia de prova do ENEM estava marcada uma cirurgia para amputar a perna esquerda dele. “Não podia fazer a cirurgia no dia marcado porque tinha que fazer o ENEM e assim o médico decidiu adiar a amputação em mais uma semana”, relatou.
Todo esse esforço de Ezequiel deu resultado. Na última semana, o jovem, que é o sexto filho de uma família de sete irmãos e que é natural do Sítio Trapiá, município de Assú, conseguiu um feito inédito. Ele foi o primeiro estudante de uma classe hospitalar do Rio Grande do Norte a fazer o ENEM e também ser aprovado no SISU. Ezequiel vai ser aluno da Ufersa, do curso de Ciência e Tecnologia, em Mossoró. A meta dele é realizar o sonho de criança: se formar em Engenharia Civil. “É muito emocionante! Ezequiel fez história e acreditou. O que fizemos foi só embarcar e garantir o sonho dele. Ele motivou e motiva todos nós”, comemorou a pedagoga Hemaúse.
A história de Ezequiel com a Ufersa não é de agora. Em 2017, ele, junto com outros estudantes da Escola Estadual Juscelino Kubitschek de Assú, participou da Feira de Ciências do Semiárido Potiguar na Universidade em Mossoró. A equipe apresentou um projeto de carregador magnético e foi destaque recebendo Prêmio de Inovação Tecnológica. Em 2018, Ezequiel fez o ENEM e também foi aprovado para o curso de Ciência e Tecnologia do Campus Angicos, mas não deu para cursar. “Não tive como me matricular no curso porque descobri a doença e tive que iniciar o tratamento”, relatou.
Atualmente, Ezequiel, (flamenguista apaixonado – inclusive fez a prova do ENEM com a camisa do clube) encontra-se numa fase de manutenção após um período de aplicações de quimioterapia. Os próximos seis meses serão fundamentais para o jovem. Ele agora segue o tratamento com medicamentos orais em busca da cura definitiva. Quanto ao curso da Ufersa, ele deve fazer a matrícula e deve ser acompanhado pela Coordenação de Ações Afirmativas, Diversidade e Inclusão Social, a Caadis. Como o tratamento ainda não foi concluído, a expectativa é que Ezequiel comece a frequentar as aulas no segundo semestre.


*Assessoria de Comunicação da UFERSA.