Por que isto pode acontecer? Nosso corpo é como uma fábrica, na qual várias atividades operacionais ocorrem incessantemente, desde a formação de um ser humano no ventre materno até o final da vida. Estas atividades operacionais dependem fundamentalmente de nossa estrutura genética e dos hábitos de vida que adotamos.
O desafio para qualquer pessoa é saber o quanto sua estrutura genética pode favorecer o aparecimento de determinadas doenças, como é o caso do infarto e do câncer. Mais do que isso, fica sempre a dúvida acerca das causas de uma pessoa desenvolver a mesma doença várias vezes. Em muitos casos, sabe-se que a recidiva de uma doença pode impactar significativamente no tempo de vida de uma pessoa.
Quando se faz um histórico familiar acerca da propensão para um infarto do coração ou um câncer, ficam nítidas algumas particularidades que, na verdade, são pistas que deveríamos valorizar se quisermos executar estratégias preventivas.
Um exemplo muito típico é quando percebemos que dois ou três membros da mesma família morreram pela mesma doença tendo praticamente a mesma faixa etária. Para os cardiologistas, como eu, seria muito representativo notar que dois ou três membros de uma certa família tiveram infarto do coração antes dos 40 anos. O mesmo raciocínio seria válido no caso de um câncer.
Além de fatores genéticos, não podemos desvalorizar a importância do estilo de vida, especialmente quando nosso foco é o infarto do coração ou câncer. Todos nós queremos viver bastante, produzir algo, consumir, desfrutar das coisas boas da vida. Tudo isto está envolvido nas escolhas que fazemos quanto ao estilo de vida.
Podemos adotar um estilo de vida não saudável e contar com a sorte genética de não termos uma propensão significativa para um infarto ou um câncer. Isto pode acontecer sim —quantas pessoas fumam durante a vida toda e não morrem de um câncer! Quantas pessoas ingerem alimentos gordurosos e vivem mais de 90 anos!
Entretanto, muitos estudos mostram que seria muito arriscado confiar somente nos fatores genéticos. Eu vejo muito no consultório as pessoas dizendo: "Não tem ninguém que morre do coração ou de câncer na minha família, então não me preocupo tanto com meus hábitos". Este é um grande erro de cálculo.
O estilo de vida também é extremamente determinante para o desenvolvimento de doenças como infarto do coração e câncer.
Muitos fatores de risco estão relacionados ao estilo de vida, como o tabagismo, sedentarismo, obesidade, colesterol elevado, etilismo, diabetes e estresse. Muitas vezes a somatória de muitos fatores de risco pode ser maior do que a propensão genética para desenvolver uma doença. Confiar exclusivamente em seu histórico familiar favorável não deveria ser a melhor conduta.
Uma pessoa pode apresentar a mesma doença mais de uma vez, como infarto do coração e câncer, em decorrência de sua estrutura genética, em decorrência de seus hábitos de vida ou ambas situações associadas.
Há pessoas que acumulam muito colesterol no sangue mesmo tendo uma vida ligada aos esportes e isto pode ser justificado pelo fator genético. Por outro lado, há pessoas que não têm um histórico familiar importante para o infarto, mas seus hábitos alimentares contribuem para o colesterol muito elevado.
*Grupo Cidadão 190