O jovem Porthinhos, de 13 anos, escolheu o Superman para lhe dar força
Explicar de maneira lúdica o diagnóstico de câncer e quais são as suas consequências para o público infantil é um dos principais desafios dos hospitais que tratam da doença. É por isso que, cada vez mais, essas unidades apostam em estratégias como histórias em quadrinhos, super-heróis e personagens infantis para se aproximar da linguagem das crianças doentes. Há pouco mais de um mês, a pediatria oncológica do Hospital A.C.Camargo Câncer Center, por exemplo, foi toda decorada com super-heróis, entre eles o Batman, a Mulher Maravilha e o Lanterna Verde - ídolos do público infantil.
Por lá, as embalagens de quimioterapia - que é aplicada na veia por meio de um soro - são cobertas por cápsulas temáticas de acordo com o super-herói escolhido pela criança e ganham o poder de "superfórmulas". "A ideia é que eles recebam a superfórmula para se tornarem superfortes para vencerem o supervilão, que é o câncer", explica a médica Cecília Lima da Costa, diretora da oncologia pediátrica do hospital.
E a imaginação não para por aí. A campanha, realizada em parceria com a agência JWT, ainda vai produzir gibis que contarão histórias dos super-heróis enfrentando o câncer - a mesma doença da criança.
O jovem Leonardo, de 13 anos, montou um super-herói dos Transformers no hospita
"Vi a campanha na internet e assim que me internei já pedi a minha superfórmula. Escolhi a do Lanterna Verde, agora estou com o Superman. Da próxima vez, vou pedir o Batman", conta o sorridente Porthos Martinez Silva Leite, de 13 anos, carinhosamente chamado de Porthinhos, que trata uma leucemia. "Mulher Maravilha eu não quero porque é de menina", diz. Poucos quartos depois estava Leonardo Provazi de Souza, de 13 anos, internado por causa de um tumor ósseo recém-descoberto. Ele ainda não tinha escolhido o seu super-herói entre os disponíveis no hospital, mas em apenas uma tarde montou o super-herói Starscream, dos Transformers, com mais de 300 peças, para ser o seu companheiro na unidade durante os dias de tratamento. "Além dos super-heróis, aqui deixam subir visitas, deixam trazer videogame. É muito bom", diz o menino.
Sertanejos. Também apostando na ideia de falar sobre câncer de maneira clara e lúdica com as crianças, o Hospital de Câncer Infantojuvenil de Barretos está desenvolvendo uma cartilha que trará os personagens mirins da dupla sertaneja Fernando & Sorocaba como interlocutores. As cartilhas estão em elaboração e devem ser lançadas em agosto, junto com a festa do peão boiadeiro da cidade.
Segundo Luiz Fernando Lopes, diretor médico do hospital, a cartilha vai explicar os conceitos básicos do tratamento, mas terá ênfase na nutrição desses pacientes, que muitas vezes precisam de dietas especiais. "Essa é uma forma de a gente falar com a criança sobre a alimentação correta e a importância do tratamento, usando a linguagem típica do local, que é o sertanejo", diz o médico.
Seguindo a mesma tendência, a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) coordena o Projeto Dodói, em parceria com o Instituto Maurício de Sousa, há pelo menos três anos. Eles desenvolveram um gibi especial, com duas personagens com câncer: uma tem linfoma e outra leucemia. E, de maneira lúdica, explicam aos outros personagens do gibi o que é a doença e como tratar.
A Abrale fez uma parceria com 12 hospitais do País que tratam o câncer infantil e, além do gibi, as crianças ainda recebem um boneco (Mônica ou Cebolinha) e um kit de primeiros socorros de brinquedo. "Brincar é importante e fundamental para a criança. É brincando que ela sinaliza os medos e se sente potente diante das situações", diz Maria Teresa Veit, coordenadora do Departamento de Psicologia da Abrale. Até hoje, já foram entregues 364 kits.
No Hospital Infantil Boldrini, a pediatria infantil tem brinquedos higienizados que contribuem com o tratamento das crianças. Além disso, os pacientes em tratamento podem escolher várias fantasias de super-heróis disponíveis na brinquedoteca do hospital antes de irem para as consultas. Em um projeto de humanização, as crianças colocaram em poesias as suas aflições, o que foi transformado no livreto Jovens Poetas, distribuído no hospital.
*Fonte: http://www.estadao.com.br