terça-feira, 24 de março de 2015

HPV: por que a adesão à segunda fase da vacinação foi baixa?

Dra. Isabella Ballalai, presidente ida Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), está preocupada. Relata que é a primeira vez em 20 anos que percebe uma adesão tão baixa da população em torno de uma vacina, no caso, a que protege contra o vírus do HPV, o papilomavírus humano.

Após quase seis meses desde que o Ministério da Saúde iniciou a segunda fase da campanha, a pasta vacinou somente 57% de seu público-alvo, formado por 4,9 milhões de meninas de 11 a 13 anos. A meta, na verdade, é vacinar 80% desse público. A primeira fase, que ocorreu em março do ano passado, foi considerada um sucesso pelo governo, pois imunizou 99% das garotas. A partir dos próximos meses, a vacina será ofertada também para meninas de 9 e 10 anos.

Questionado, o Ministério da Saúde não possui nenhuma estratégia específica para tentar alavancar esses números, somente a campanha publicitária direcionada às jovens e seus pais. Com o tema “Cada menina é de um jeito, mas todas precisam de proteção”, as peças, veiculadas em TVs, rádios, internet e jornais, convocam as adolescentes para se vacinar e alertam as mulheres sobre a importância da prevenção.

“Na verdade, a repercussão que houve na mídia do caso das garotas de Bertioga pode ser considerada um dos motivos da procura pela vacina ser tão baixa até agora”, sugere a médica.

Em setembro de 2014, logo após o Ministério da Saúde iniciar a segunda fase da campanha, 11 garotas de uma mesma escola na cidade de Bertioga, SP, alegaram mal-estar depois da imunização. Três acabaram sendo internadas e uma das adolescentes reclamou que não estava “sentindo as pernas”. Por conta disso, logo foram transferidas para um hospital de referência na cidade de Santos, para serem examinadas por médicos especialistas.

A diretora de imunização da Secretaria Estadual de Saúde, Helena Sato, foi até a Baixada Santista para acompanhar de perto o quadro das três estudantes. A médica, contudo, descartou problemas no lote e falhas na aplicação ou de armazenamento da vacina.

‘’As meninas foram avaliadas clinicamente, acompanhadas e muito bem examinadas. Foram feitos exames laboratoriais e de imagem. Nenhuma ficou com paralisia ou algum tipo de sequela. Todas passam bem’’, confirma Sato.

Por mais que não exista relação causal com a vacina, a especialista acredita que o caso tenha assustado os pais, que, temerosos, passaram a optar por não submeter as filhas à segunda dose da vacina.

“Consideramos que elas tiveram uma reação de ansiedade após a imunização. Algo que ocorre com certa frequência, pois muitas vezes as meninas ficam nervosas e com medo da possível dor que a vacina pode causar”, completa.

Outra hipótese apresentada pelos especialistas para justificar a baixa adesão é que a partir da segunda dose se tornou possível para os municípios escolher se a vacinação ocorreria novamente dentro das escolas ou no postos de saúde.

Na opinião da presidente da Comissão de Vacinas da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), Nilma Antas Neves, as cidades que escolheram as unidades de saúde ajudaram a diminuir o índice de meninas vacinadas. “Como o local de vacinação se tornou opcional, as mães precisam encontrar um tempo para levar as filhas, o que dificultou a adesão. E tem essa questão do medo que ficou enraizada, já que é o primeiro ano da vacina.”

Leia a matéria sobre a segurança da vacina contra o HPV aqui


Fonte: http://drauziovarella.com.br