sexta-feira, 30 de junho de 2017

ESTUDOS MOSTRAM QUE EXERCÍCIOS E DIETA REDUZEM RISCO DE RETORNO DO CÂNCER

Estratégias antes usadas na prevenção agora fazem parte do tratamento da doença, mostram pesquisas

RIO – Nas quatro horas em que permanecia no hospital fazendo quimioterapia para tratar o câncer em um dos testículos, o educador físico Vinicius Zimbrão só conseguia pensar que preferia estar fazendo 30 minutos de exercício. Atividades físicas sempre fizeram parte de sua vida, e não ficaram de fora mesmo durante seu tratamento com remédios quimioterápicos, em 2014. Ele chegou a criar o #DesafioDoZimbrão nas redes sociais, incentivando outras pessoas a se exercitarem “por ele” nas horas em que não conseguia malhar.

— Eu sempre digo que viver inspira a cura. Independentemente do tipo de tumor e do grau de agressividade, nós temos que nos ajudar a nos curar. E o exercício físico foi essencial para mim nesse processo — conta ele, aos 42 anos.

Hoje, três anos depois do diagnóstico, Zimbrão não tem mais câncer, mas faz anualmente exames de imagem e de marcadores sanguíneos para se prevenir em relação a uma improvável, mas possível, recidiva (retorno da doença). Ele crê que seu bom condicionamento físico é fundamental para evitar que a doença volte. E seu médico, o oncologista Daniel Herchenhorn, concorda:
— Mesmo que a doença já tenha se estabelecido, nós podemos interferir na evolução dela com nosso estilo de vida — comenta o médico, coordenador científico do Grupo Oncologia D’Or. — É claro que praticar exercício e se alimentar bem ajuda na prevenção de doenças, mas o que os estudos têm mostrado com cada vez mais força é que esses dois aspectos também ajudam a melhorar o prognóstico de quem já está doente, diminuindo risco de morte, de o câncer se espalhar ou de retornar depois de anos.

Herchenhorn destaca que foi “surpreendido” pela grande quantidade de trabalhos científicos nessa direção apresentados no Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, na sigla em inglês) — o maior da área —, no início do mês. Pelo menos cinco estudos, todos envolvendo universidades renomadas como as americanas Harvard e Duke, mostraram que a ingestão de determinados alimentos e a prática regular de atividades físicas tiveram um impacto até melhor do que boa parte dos médicos esperava.Em uma das pesquisas, a análise do estilo de vida de aproximadamente mil pessoas diagnosticadas com câncer de cólon em estágio 3 mostrou que o grupo de pacientes que se manteve com peso adequado, fez exercícios regularmente, seguiu uma dieta rica em vegetais, frutas e grãos e ingeriu baixa quantidade de álcool e carne vermelha ou processada apresentou taxa de retorno do câncer 30 % mais baixa e 42% menos risco de morte, em comparação com pacientes que não tinham esses hábitos.

Outro trabalho, também com câncer de cólon, revelou que, dos 826 pacientes estudados, aqueles que comeram toda semana no mínimo 100 gramas de castanhas — amêndoas, nozes, pistache e castanha-do-Pará, por exemplo — tiveram 42% menos risco de retorno do tumor e 57% menos risco de morte, se comparados aos pacientes que não ingeriram esse tipo de alimento. O câncer de cólon é o terceiro mais recorrente no mundo, em ambos os sexos. E isso ajuda a explicar por que tumores malignos localizados nesse órgão são tão frequentemente estudados.

Tumor de mama, próstata e metástase óssea

Os efeitos benéficos da combinação de dieta equilibrada e exercício também foram recentemente atestados, em pesquisas científicas, para câncer de mama — o líder de incidência entre mulheres —, de intestino e de próstata e para metástases ósseas, quando o tumor sai do órgão em que ele surgiu e atinge um osso próximo.

— Esses são os cânceres nos quais os efeitos benéficos têm se mostrado mais claros. Mas é difícil imaginar que boa dieta e exercícios não sejam favoráveis para outros tipos — comenta o médico Daniel Herchenhorn.

No entanto, o paciente que está em tratamento contra o câncer ou já teve a doença precisa de acompanhamento profissional para escolher a melhor dieta e a rotina de exercícios mais adequada, destaca o oncologista Stephen Stefani, do Hospital do Câncer Mãe de Deus, no Rio Grande do Sul.

— Se isso não for feito, o paciente corre o risco de entrar em dietas fantasiosas, sem comprovação científica. Não é raro chegarem até nós, no consultório, pacientes que já tentaram dietas loucas, geralmente por indicação de pessoas com a melhor das intenções, mas que acabam atrapalhando — afirma. — Não existe estudo que diga qual é a dieta perfeita. Mas todos vão na mesma direção: muitas fibras, o que é encontrado em frutas, por exemplo, e mais gordura vegetal do que animal. Esta tem se mostrado a estratégia mais positiva e boa para a saúde como um todo.

Outro estudo apresentado no ASCO mostrou, ainda, que 12,1% de 300 mulheres que tiveram câncer de mama e seguiram uma rotina de ao menos 150 minutos de exercício semanais tiveram retorno da doença, índice mais baixo do que o registrado entre as que não praticaram exercício: 17,7%.

O resultado dessa pesquisa é bem ilustrado pela história de Fabiana Lucena: diagnosticada com câncer de mama aos 24 anos, ela já havia voltado a fazer exercícios com peso quatro meses após iniciar a quimioterapia. Personal trainer, ela nunca abandonou as academias e, 11 anos depois, não teve nenhuma recaída.

— O exercício me ajudou a ter efeito colateral quase zero durante a quimioterapia. E ainda mudei hábitos alimentares: evito carne vermelha e como bem mais frutas do que antes — conta.

*Fonte: O Globo