domingo, 10 de maio de 2020

O adeus ao homem que mais lutou por políticas e melhorias para o controle do câncer no Brasil: Dr. Marcos Moraes

Conhecido entre os seus pares como ‘Ministro do Câncer’ pela vida dedicada à Oncologia e por sua projeção dentro da política nacional de saúde, o Dr. Marcos Fernando de Oliveira Moraes nos deixou no dia 4, de causas naturais, aos 84 anos.

A trajetória profissional desse alagoano iniciou-se em 1963 com o curso de graduação em Medicina na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), então Universidade do Distrito Federal. Como já diz o ditado, o bom filho a casa torna, depois de formado, o médico voltou à sua terra natal onde organizou o Serviço de Cirurgia do Hospital Regional Santa Rita, de Palmeira dos Índios (AL). Mas sua missão ainda estava no início. De volta ao Rio de Janeiro, iniciou suas atividades como cirurgião do Hospital de Ipanema. Cinco anos depois, foi para a Universidade de Illinois, em Chicago, nos Esta dos Unidos, onde desenvolveu várias linhas de pesquisa científica e sua formação em cirurgia oncológica. Dr. Marcos Moraes passou a Fellow do Serviço de Oncologia Cirúrgica, de 1975 a 1977.

Na bagagem de volta ao Brasil, trouxe as modernas técnicas de cirurgia oncológica, ajudando a internacionalizar a Medicina do país. Em 1978, tornou-se professor titular da Escola Médica da Universidade Gama Filho e chefe do departamento de cirurgia do Hospital Universitário Gama Filho, onde reuniu os mais renomados cirurgiões da época.

Em 1990, atendendo a um convite do governo federal, participou da elaboração do Programa Nacional de Controle de Câncer. Nesse mesmo ano, as sumiu a direção geral do Instituto Nacional de Câncer (INCA), cargo que ocupou até 1998. Durante sua gestão, imprimiu ao Instituto a marca de uma administração ágil e moderna, capaz de pro mover rapidamente as profundas reformas necessárias à sua transformação em órgão público de referência para o controle do câncer no Brasil. Com o objetivo de promover o desenvolvimento institucional, capacitar os recursos humanos do INCA e atrair novos talentos, criou a Fundação do Câncer com outros três médicos do Instituto, em 1991.

Dr. Marcos Moraes e Dr. Luiz Augusto Maltoni Junior, diretor executivo da Fundação do Câncer.
Incansável, Dr. Marcos Moraes fez da Oncologia a bandeira de vida: escreveu mais de 35 trabalhos técnicos-científicos, impressos nas mais renomadas publicações do Brasil e internacionais; escreveu 23 capítulos de livros da área e foi membro do conselho editorial de 11 revistas brasileiras e 6 estrangeiras. Participou de inúmeras comissões científicas no Brasil e em outros países, entre as quais a Comis são de Intercâmbio Técnico-Científico Brasil -Cuba, nomeada pelos ministros de Saúde e das Relações Exteriores, e a Comissão sobre Câncer, do Colégio Americano de Cirurgiões, de 1999 a 2001.

Resumir a atuação desse brilhante médico, que chegou a ser representante oficial do Brasil na Organização Mundial de Saúde para o National Cancer Control Programmes, é difícil tamanha a sua capacidade produtiva. Coordenou vários cursos de aperfeiçoamento e diversos encontros nacionais e internacionais, presidiu o 17º Congresso Inter nacional de Câncer (1998) e o 8º Congresso Mundial de Cirurgia Oncológica (2009), ambos realizados no Rio de Janeiro. Marcou presença em mais de 200 congressos e eventos científicos nacionais e em mais de 100 inter nacionais. Também proferiu palestras e conferências nas principais universidades do país.

Foi amplamente reconhecido, no Brasil e no mundo, pelo seu histórico profissional. As premiações foram inúmeras: o Annual Research Award, da Sociedade Cirúrgica de Chicago (1976); o Research Scholar, do Departamento de Cirurgia da Universidade de Illinois (1977); o Distinguished Service Award, da União Internacional contra o Câncer (1992); diploma e medalha de Grão-Cavaleiro da Ordem da Liga Baiana Contra o Cân cer (1992); diploma de Honra ao Mérito da Fundação Antonio Prudente, por seu relevante trabalho no controle do câncer no Brasil (1994); diploma e medalha de Honra ao Mérito da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (1994); a Medalha de Mérito Oswaldo Cruz (2009), na categoria Ouro, e a Medalha da Ordem do Mérito Médico na Classe Oficial (2010), ambas concedidas pelo então ministro da Saúde, pelos relevantes serviços prestados à saúde pública brasileira; diploma de Membro Emérito do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (1999).

Há que se destacar a sua cruzada contra o tabagismo no Brasil, fato que o fez ser homenageado com medalha e diploma da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1994. Para se ter ideia da importância do trabalho realizado pelo Dr. Marcos Moraes, em 1989, 32% da população acima dos 15 anos fumava; em 2008, esse índice caiu para 17%. Na época, pelo menos sete estados brasileiros adotaram leis antifumo que proíbem o cigarro em ambientes coletivos, além de outras medidas que desestimulam o hábito de fumar. Bandeira esta amplamente difundida até hoje pela Fundação do Câncer, onde Dr. Marcos Moraes ainda ocupava o cargo de presidente de honra do Conselho dos Curadores, e comemorou a redução desse percentual para 9% de fumantes no país.

Dr. Marcos Moraes participou ainda das mais significativas instituições médicas brasileiras e mundiais: Academia Nacional de Medicina, sendo seu presidente por duas vezes (2007-2009 e 2011-2013), Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, Sociedade Latino-Americana de Institutos Nacionais de Câncer, Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, Society of Surgical Oncology, American College of Surgeons e World Federation of Oncological Surgical Societes, entre outras.

Em 2012, recebeu das mãos do vice-presidente da república o prêmio Octavio Frias de Oliveira, concedido pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) e criado para reconhecer personalidades responsáveis por ações que endossem o combate ao câncer no país.

Ao Dr. Marcos Moraes, nós da Fundação do Câncer, agradecemos por toda a vida dedicada ao desenvolvimento da área oncológica em nosso país. E prometemos seguir o seu ensinamento: “Investir em uma medicina mais humanizada, reaproximar os médicos dos pacientes e transformar a sociedade em uma aliada”. Esses foram os seus valores e serão para sempre o lema da Fundação do Câncer.

LINHA DO TEMPO
1963 – Cursou graduação em Medicina na Fa culdade de Ciências Médicas da Universida de do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), então Universidade do Distrito Federal.

1967 – Organizou o Serviço de Cirurgia do Hospital Regional Santa Rita de Palmeira dos Índios (AL).

1971 – Organizou e chefiou o Serviço de Tumores de Partes Moles e a Comissão de Oncologia do Hospital de Ipanema, onde também administrou o programa de residência médica.

1973 – Foi membro fundador da American Trauma Society, em Chicago.

1978 – Tornou-se pro fessor titular da Escola Médica da Universidade Gama Filho e chefe do departamento de cirurgia do Hospital Universitário Gama Filho.

1989 a 1999 – Foi presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica.

1990 – Foi convidado pelo governo federal a escrever o Programa Nacional de Controle de Câncer. No mesmo ano assume a direção geral do Instituto Nacional do Câncer.

1991 – Foi um dos fundadores da Fundação do Câncer, instituição sem fins lucrativos que atua na captação de recursos, consultoria, pesquisa, prevenção, assistência e controle do câncer.

1999 – Assume a presidência da Associação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Combate ao Câncer

2000 – Coordenador do Programa de Oncobiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

2002 – Assumiu o cargo de professor honorário do Instituto de Ciências Biomédi cas da Universidade Federal do Rio de Janei ro

2004 a 2006 – Presidiu a Federação Mundial das Sociedades de Cirurgia Oncológica.

2007 a 2009/2011 a 2013 – Foi presidente da Academia Nacional de Medicina, onde ocupava a cadeira no 68 de membro titular.

2012 – Recebeu o prêmio Octavio Frias de Oliveira, concedido pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) a personalidades de destaque no combate à doença no Brasil.

2013 – Foi um dos idealizadores da Lei José de Alencar, que permite a pessoas jurídicas e físicas fazer doações para o Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon).


*Fundação do Câncer