— O reencontro com o texto da Gloria (Perez), com quem trabalho pela terceira vez, colegas novos e antigos… Entrar no estúdio que inaugurei com uma novela dela, há 22 anos (“Explode coração”), tudo isso me deixa em casa de uma forma muito estimulante. Fui abrigado e acarinhado por todos. Eu me divirto com Dantas e com as idas ao Projac. Às vezes, dá vontade de continuar lá mais um pouquinho. Não poderia estar em lugar melhor — diz o ator, de 59 anos.
Na história, o personagem se vê às voltas com a inconsequência da filha, Cibele (Bruna Linzmeyer). Celulari comemora não passar o mesmo com os herdeiros, Enzo, de 20 anos, e Sophia, de 14, da união com Claudia Raia.
— Eles são muito independentes, bem resolvidos. Já deram provas disso diante das questões e as experiências de vida que passaram. Os pais devem dar aos filhos a responsabilidade de decisão. E os dois têm mostrado segurança para isso. Tenho muito orgulho deles — elogia o artista, que não economiza na declaração aos filhos: — O amor só cresce. Tem horas que não encontro bolso para guardar tanto amor por eles. E a recíproca é verdadeira, é um elo muito legal que a gente vai criando.
A força do amor de Enzo e Sophia, além do apoio da mulher, Karin Roepke, de 34 anos, foram ingredientes fundamentais na cruzada do ator contra a doença. A dupla não saiu de perto do pai, contribuindo para a maneira corajosa com a qual ele enfrentou, por cinco messes, o pesado tratamento, com sessões de quimioterapia e radioterapia, com tantos efeitos colaterais. O primeiro deles, a queda de cabelo, que poderia mexer com a vaidade de Celulari, foi encarado com certo bom humor por ele. E teve a caçula como agente principal na poda dos fios:
— Não fiquei esperando aqueles tufos no travesseiro, chamei Wanderley Nunes, meu amigo, que corta meu cabelo há muito tempo. Sophia, que estava em casa por ser o dia de visita dela, raspou minha cabeça junto com ele. Ao me ver careca, falei: “Que personagem interessante… Não me lembrava como era o formato da minha cabeça, dos meus ossos…”. Perdi o cabelo, não minha cabeça. A vaidade ficou ali, bem calminha, na dela, porque a prioridade era a vida.
Celulari ainda teve que lidar com outras consequências como a mudança na cor da pele, fraqueza das unhas, perda temporária do paladar e olfato, além dos enjoos. Mas seguiu confiante. O medo de morrer, claro, surgiu, até porque o artista perdeu o pai com câncer, há 30 anos, “numa época em que não se dizia o nome da doença por preconceito”, diz ele. Mas o ator garante que esse sentimento só apareceu no momento em que recebeu a notícia.
— Depois que o diagnóstico foi fechado, não tive mais receio. É enfrentar ou enfrentar e saber quais os recursos e as chances. O meu tipo de câncer era comum, já com protocolo pronto, bem utilizado, com 91% de chance de bons resultados. Então, comecei logo. Os remédios me deixavam bem sonado durante um período e depois me aceleravam. Era quando eu marcava com meus amigos. Só eu falava, ninguém aguentava mais me ouvir (risos) — brinca.
Durante o período do tratamento, Celulari viu o quanto é querido pelo público, o que o deixou impressionado:
— As pessoas em geral se manifestaram nas redes sociais, nas ruas: “Edson, rezei muito por você”, isso era o que mais ouvia. Sou grato a todos que torceram, oraram… Num mundo onde as redes sociais nos expõem de um jeito até covarde, é um bálsamo ver que ainda há sentimentos bons, positivos, de solidariedade.
É com essa leveza que o artista analisa o revés que o acometeu.
— Voltei acreditando mais nos meus sonhos, com mais vontade de trabalhar. Ficaria chateado se tivesse ido, porque acho que iria cedo. E estou cheio de vontade de viver — afirma o ator, que, com o susto, passou a ter um outro entendimento sobre a finitude: — Quanto mais se sabe sobre ela, mais se valoriza o tempo. Não tenho a intenção de viver tudo correndo. Pelo contrário, quero escolher o que experimentar naquele momento. Pretendo viver o que tiver para viver com qualidade.
Algumas mudanças, claro, foram inseridas em sua rotina.
— Tenho que praticar atividade física todos os dias para minha imunidade ficar alta. Então, faço de quatro a cinco quilômetros, seja na esteira ou na bicicleta. Tomo uma série de vitaminas e preciso ter cuidado com gripe, evitar carne crua, ferver o leite. Ainda não posso pegar sol, por conta de resquício do tratamento. Podem aparecer manchas irreversíveis. Por isso, ando com guarda-sol e protetor. Mas posso tomar uma tacinha de vinho (risos) — comemora.
E ele tem mais o que festejar. Ano que vem, completa 60 anos e 40 de carreira. Sem contar que ainda provoca suspiros, apesar de minimizar o papel que lhe cabe no latifúndio dos galãs.
— Na verdade, nunca tive esse compromisso. Sou um ator, essa é uma escolha externa a mim. Mas se eu trago essa inspiração, uma referência, fico feliz (risos) — diz ele, que não tem questões com o envelhecimento: — Há um tempo, quem tinha 60 anos era um velhinho, um vovô… Primeiro que não tenho netos ainda e espero que eles venham na hora certa, sem sustos (risos). Não que eu me considere jovem. Eu me sinto com muita energia, de trabalho, com capacidade de sonhar, de imaginar coisas e de me organizar para conquistar.
Uma carta amorosa de Karin Roepke para Edson Celulari
“Existem encontros que, de tão inesperados, se tornam surpreendentes. De um dia pro outro, as suas expectativas e planos mudam de ponto de vista; tudo fica mais claro, mais brilhante, mais vivo. As músicas começam a ter mais melodia, os filmes passam a ser mais interessantes e os jantares mais saborosos. A vida passa a ter outro sentido e, de repente, você percebe que o amor finalmente aconteceu. Assim é o nosso encontro. Cada dia uma novidade, um aprendizado, um degrau a mais na descoberta de nós mesmos. Dizem que a melhor experiência de auto-conhecimento é através do relacionamento. Portanto, eu te agradeço por viver a nossa jornada de forma leve, apaixonada e cheia de planos lindos! Parafraseando o personagem do filme “Into the wild”, eu também acredito que a felicidade é mais verdadeira quando compartilhada.”
*Fonte: Extra Online